sábado, 28 de junho de 2014

"Está todo mundo chorando, apavorado, nervoso", diz moradora desabrigada em Iraí

Desde a quinta-feira, o Minuano CTG abriu as portas para receber famílias desabrigadas pela enchente em Iraí. Até o início da manhã desta sexta, seis famílias da zona afetada foram deslocadas à sede do centro de tradições,na Rua Eurico Kern, e de lá não devem sair tão cedo. As chuvas dos últimos dois dias fizeram o Rio Uruguai superar a marca dos 18 metros.
E mesmo sendo um problema relativamente corriqueiro na cidade, a enchente deste ano assustou moradores como a pensionista Maria Lugaresi, 62 anos. Em Iraí há mais de três décadas e desabrigada pela chuva desta semana, ela se lembra bem da enchente de 1983, considerada até então a maior da história do município, que fez o rio atingir a marca de 18,3 metros. Além desta semana, foi a única vez que ela teve que sair de casa por conta da invasão das águas.
Aquela enchente fez a família reconstruir a casa, também na Rua Eurico Kern, substituindo a madeira por material mais resistente e com uma distância maior do chão, para prevenir novos problemas.
Nesta sexta-feira, às 5h da manhã, após uma noite de resistência e de tentativa de ir salvando alguns pertences com ajuda da prefeitura, Maria precisou sair da residência levando pouco. Segundo ela, conseguiu tirar uma geladeira, o fogão, documentos e roupas da casa de três peças, que divide com dois filhos e o marido.
– É horrível. Todo mundo está chorando, apavorado, nervoso. A gente não dorme de nervoso – comentou.
Ela se assustou com a rapidez da elevação do rio, em comparação com 1983.
– Era bem menos chuva e levou mais tempo. Nesta vez, subiu muito rápido – compara.

CTG é um dos pontos que recebe desabrigados na cidade
Foto: Fernanco Sucolotti, Prefeitura de Iraí, divulgação
Recepção desagradável
Em Iraí há seis meses, Eulália da Silva, 64 anos, se mudou para ficar mais próxima do filho. Antes moradora de David Canabarro, nunca tinha passado pela situação. Ao meio-dia de quinta-feira, foi deslocada para o CTG após ver a água atingir "meio metro" do chão na casa comprada junto com o marido na Rua Adalberto Zeilmann. Conseguiram tirar um guarda-roupa, o fogão a gás e o fogão a lenha.
– Nunca, nunca, nunca tinha visto algo assim. Fizemos um empréstimo no banco para comprar essa casa para agora perder tudo – lamenta.
O filho de Eulália, Édson David da Silva, 27 anos, também precisou sair de casa. Em Iraí há dois anos, onde foi morar com a mulher e as duas filhas por conta do emprego em Chapecó, a surpresa com o nível das águas ocorreu quando retornou do trabalho, na madrugada de quinta-feira. Também conseguiram tirar poucas roupas e alguns móveis e foi buscar abrigo para a família na casa da sogra.
– Ficou cama, mesa, cadeiras, tudo, tudo. Tinha comprado tudo há pouco. Ainda estou pagando as prestações – comentou.
Mais chuva
A previsão do tempo não traz boas perspectivas para os moradores de Iraí. Asexta-feira será mais um dia de chuva em todas as regiões do Estado e os maiores acumulados devem ser registrados justamente no Norte. De acordo com a Somar Meteorologia, as precipitações devem dar uma trégua somente na segunda-feira, mas retornam ainda na quarta-feira.
Segundo balanço da manhã desta sexta, a Defesa Civil do município, o número de pessoas desalojadas ou desabrigadas pela chuva em Iraí já chega a 1,5 mil. As Ruas Paul Harris e Adalberto Zeilman, próximas ao Centro, são as mais afetadas.
O município, de aproximadamente 8 mil habitantes, enfrenta seguidamente problemas com a chuva, mas esta situação está sendo mais complicada.
– Em 1983 o rio demorou de quatro a cinco dias para chegar a esse nível. Agora foi em 24 horas, por isso foi mais difícil – comenta o responsável pelo vice-prefeito e responsável pela Defesa Civil da cidade, Edson Borges do Canto.
As famílias deslocadas para os abrigos estão recebendo assistência, como alimentação, colchões e roupas.
A chuva que atinge o território gaúcho ainda impede as travessias de balsa entre Brasil e Argentina. Em Porto Mauá, o trajeto está suspenso há um dia em função da enchente. No município, o nível do Rio Uruguai atingiu 17,05 metros e, se os temporais continuarem, essa pode ser a maior enchente da história na região. Aos argentinos, a alternativa é seguir viagem por Uruguaiana e São Borja.
Fonte: ZH

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