quarta-feira, 7 de maio de 2014

Faxinalzinho não é o único barril de pólvora

Levei um puxão de orelha do prefeito de Faxinalzinho, Selso Pelin (PPS), entrevistado nesta manhã no Gaúcha Atualidade, por expressar minha preocupação com as crianças que estão sem aula desde que dois agricultores foram torturados e assassinados por índios no interior do município. O prefeito está convencido de que nós, na cidade, não temos uma ideia precisa do clima de tensão ente índios e agricultores em Faxinalzinho e em outros municípios do norte do Estado.
_ O que é um ano sem aula perto de uma vida perdida? _ perguntou o prefeito.
Se não me conformo com a ideia de uma criança ficar 15 dias sem aula porque as autoridades não conseguem garantir a segurança, imagine um ano. Pois o prefeito disse que teve de suspender o transporte que leva os alunos do interior para as escolas porque nos sete ônibus viajam índios e brancos e não quer colocar a vida das crianças em risco.
O relato do prefeito, que decretou estado de calamidade pública logo depois do assassinato dos dois agricultores, é dramático. Pelin deixa claro que Faxinalzinho não é o único barril de pólvora por conta da demarcação de áreas para índios, que ameaça deixar famílias inteiras desalojadas das terras que cultivam há três ou quatro gerações.
O Ministério da Justiça está sendo omisso. Agora que o caldo entornou, promete-se uma solução jurídica que permita pagar com dinheiro os pequenos proprietários que tiverem suas terras desapropriadas para entrega aos índios. Na letra fria da lei, esses agricultores só poderiam receber indenização por benfeitorias, em geral casas e galpões de baixíssimo valor. Há casos de desapropriação em que o governo paga com títulos sem liquidez, o que impede o desalojado de comprar outra área para trabalhar.
“Sou agricultor desapropriado de Planalto desde 2001 o governo está me indenizando com precatório. Onde vou comprar terras com precatórios?”, perguntou, por torpedo, Silvestre Waliszevski, durante o programa.
O prefeito reafirma as denúncias feitas pelo deputado Luiz Carlos Heinze de que há registro de suicídios e de mortes por doenças decorrentes da depressão dos agricultores. Diz também que caciques arrendam terras de reservas para fazendeiros e levam uma vida de luxo, enquanto a tribo passa necessidades e vive do artesanato ou das cestas básicas fornecidas pela Funai. São denúncias graves, que precisam ser apuradas. O que não se pode aceitar é que as autoridades sigam empurrando o problema com a barriga, enquanto as crianças vivem em clima de terror, longe da sala de aula, esperando pelo fim do conflito ou pelo dia em que, sem alternativa, suas famílias migrarão para a periferia das cidades, engrossando as fileiras de desempregados ou subempregados, porque a habilidade de cultivar a terra para produzir alimentos não habilita ninguém para trabalhar em fábricas ou escritórios.
Fonte:Rosane de Oliveira
Postado por:Elisete Bohrer

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