sexta-feira, 16 de maio de 2014

Líder caingangue alerta para arrendamento ilegal

Cacique Amandio Vergueiro, 75 anos, diz que a prática enfraquece o movimento de retomada de áreas dos agricultoresAmandio Vergueiro, 75 anos, vive em um acampamento à beira da estrada entre Passo Fundo e Pontão.Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS.Líder caingangue alerta para arrendamento ilegal Carlos Macedo/Agencia RBS.
Amandio Vergueiro, 75 anos, vive em um acampamento à beira da estrada entre Passo Fundo e Pontão.
Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS 
Respeitado pelos jovens guerreiros, escutado pelos velhos da tribo e temido pelos agricultores, o cacique Amandio Vergueiro, 75 anos, compara o arrendamento clandestino de terras das áreas indígenas para colonos como uma peste que está levando os caingangues à extinção.

— Retomar a nossa terra dos agricultores pequenos e arrendá-las para os grandes é uma prática que vem se espalhando entre os índios. Isto tira a seriedade da nossa luta — protesta Vergueiro, cacique do acampamento Butiá, que fica à beira da estrada entre as cidades de  Passo Fundo e Pontão.
O arrendamento ilegal de áreas indígenas perfila-se entre os principais alimentadores da disputa agrária entre índios e colonos. Para arrendar as terras, as lideranças das tribos acabam expulsando famílias da área. As famílias acabam formando acampamentos em beiras de estradas, que se tornam foco de tensão agrária.
O cacique não é único a falar sobre o assunto. Há vários documentos governamentais e da própria Fundação Nacional do Índio (Funai) que apontam nesta direção, como um da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) do Estado, de maio do ano passado, que recomenda: "Ação conjunta entre os governos do Estado e Federal visando coibir os arrendamentos em áreas indígenas, situação que acaba beneficiando alguns indígenas e alguns agricultores, gerando mais exclusão e demandas por novas áreas".

Assunto tabu

Entre os caciques, a questão do arrendamento ilegal é um assunto tabu, principalmente entre os envolvidos nos conflitos agrários de retomada de área dos agricultores. Zero Hora conversou com vários deles, que concordaram em falar sobre o assunto, mas pediram que seus nomes fossem omitidos. Em linhas gerais, eles falam que o arrendamento ilegal acontece devido ao somatório de dois fatores: a pressão econômica feita pelos arrendatários e a miséria em que vivem as famílias indígenas.
Muito embora a posição de Vergueiro seja isolada, entre os indígenas ela é respeitada devido à história do cacique. Ele foi um dos líderes da retirada de 1,5 mil famílias de agricultores intrusos da Reserva Indígena de Nonoai, em 1978, e também esteve presente nas principais lutas de retomada de áreas, como a da Reserva da Serrinha, em Ronda Alta, nos anos 90.
Ninguém sabe exatamente a quantidade de arrendamentos clandestinos de terras indígenas existentes no Rio Grande do Sul — onde os índios têm em torno de 80 mil hectares, sendo cerca de 30 mil deles áreas retomadas dos brancos, segundo dados da Funai. A Polícia Federal (PF) de Passo Fundo regularmente recebe denúncias sobre arrendamentos em terras indígenas na região norte do Estado. No momento, há investigações preliminares relacionadas às denúncias.
Até agora, nas várias investigações feitas pela PF em todo o estado, a maior dificuldade dos agentes é conseguir desmascarar os contratos frios de assistência técnica e cooperação agrícola feitos entre arrendatários e índios para camuflar situações ilegais.
Fonte: Carlos Wagner 14/05/2014 | 16h08 Em Zero Hora

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