sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Trindade do Sul - Equipe de hospital salva paciente após bombear respirador por 18 horas

Funcionários do Hospital Santa Rosa de Lima conseguiram reanimar coração de agricultor cerca de 20 minutos após parada cardíaca

Dezoito horas de heroísmo salvaram a vida de Teodoro da Rocha, 65 anos. O coração do agricultor aposentado parou por volta da meia-noite de terça-feira e ele foi encaminhado ao hospital pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Após sofrer uma parada cardíaca em Trindade do Sul, no norte do Estado, o idoso foi mantido vivo graças ao esforço de uma equipe do Hospital Santa Rosa de Lima, que teve de se revezar no bombeamento de um respirador manual até que o Estado liberasse um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Quando médicos e enfermeiros conseguiram reanimá-lo, cerca de 20 minutos depois, a vitória transformou-se em frustração. Com a pressão instável e sem condições de respirar naturalmente, o idoso precisava ser transferido com urgência para uma UTI.

Como é de baixa complexidade, o hospital não tem obrigação de manter leitos deste tipo na instituição. Quando necessário, precisa recorrer à Central de Leitos do Estado.
Enquanto travava mais uma batalha na tradicional guerra por vagas, a equipe passou 18 horas bombeando ar em um respirador manual – substituto menos eficiente do respirador mecânico, que existe em UTIs – para evitar uma parada respiratória.

O aparelho é conectado ao sistema respiratório e necessita de estímulo manual para funcionar, como uma espécie de bomba de ar. É preciso apertá-la com as duas mãos, em movimento ritmado, que imite o funcionamento do pulmão. A enfermeira Elizandra da Silva, 33 anos, foi a primeira assumir o posto no respirador. Quando cansava, era substituída por uma técnica de enfermagem, de plantão, na madrugada.

Com nove anos de profissão e há 15 trabalhando no hospital, Elizandra conta que é comum utilizar o respirador manual em pacientes, mas nunca por tanto tempo. É um procedimento que deve ser feito de forma emergencial, até que ocorra a transferência para um hospital maior. Antes, ela tinha administrado um respirador manual por "apenas" três horas.


O médico Claudinei Gugel Machado, 45 anos, responsável pelo atendimento de Rocha, também entrou no revezamento. E lamentou a espera.

– Ele deveria ter sido transferido em no máximo duas horas para uma UTI – reclama Machado.

Família entrou na Justiça por vaga

Sem esperança de conseguir um leito para o pai, os quatro filhos de Rocha decidiram entrar na Justiça. Contrataram um advogado ainda na madrugada e, às 5h, o juiz já havia concedido uma liminar que determinava a internação imediata do idoso em uma UTI, com transporte realizado por uma UTI móvel.

– Vemos esse desespero por leitos todo dia, mas só sabemos como é duro quando sentimos na pele – relata o filho Marcelo da Rocha, 35 anos, que trabalha como vigilante no hospital de Nonoai.

Apesar da decisão judicial, a vaga para o paciente só foi confirmada por volta das 14h, no Hospital da Cidade, em Passo Fundo, a cerca de cem quilômetros de distância. O transporte, no entanto, só chegou a Trindade do Sul por volta das 17h. No total, com a troca de turnos, sete pessoas se revezaram no bombeamento do respirador, incluindo uma das filhas de Rocha, que é técnica de enfermagem.

– Seremos sempre gratos por isso. Eles fizeram o possível para salvar meu pai, mas se ele tivesse sido encaminhado para a UTI antes poderia estar com um quadro melhor. O estado de saúde dele é muito grave – explica o filho.

A reportagem foi até o Hospital Santa Rosa de Lima para entrevistar os outros heróis, mas a auxiliar administrativa Ana Cleta Menegaz afirmou que a direção da instituição não autorizou que eles falassem com a imprensa. A enfermeira Elizandra, que não trabalha mais na instituição por motivos pessoais, e o médico deram entrevistas na clínica particular dele, a Climed.

Sobre serem tratados como heróis, Elizandra afirma que a equipe só fez o que jurou na formatura: trabalhar para salvar vidas. E Machado acrescenta:

– Trabalhamos com o que tínhamos, mas há casos em que não é possível esperar tanto por uma UTI. Não podemos condenar as pessoas à morte por falta de estrutura.
Ambos trocariam facilmente o título de heróis por uma saúde pública melhor. O heroísmo é isso.

CONTRAPONTO
O que diz a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde (SES), por meio de nota
O paciente Teodoro da Rocha foi cadastrado junto à Central de Regulação do Estado no dia 30/12/2013, às 01h14min, para um leito de UTI Adulta. Após uma busca ativa na rede, às 14h10min do mesmo dia foi disponibilizado leito no Hospital Cidade de Passo Fundo, para onde o paciente foi transferido com transporte em UTI móvel pago pela SES, chegando ao local por volta das 21h.

O governo do Estado tem ampliado e qualificado o atendimento nessa área. Somente em 2013, foram abertos mais de 70 leitos de UTI Adulta, distribuídos em hospitais de Canoas, Novo Hamburgo, Montenegro, Tramandaí e Venâncio Aires. Atualmente, o Estado conta com mais de 1,4 mil leitos intensivistas adultos, sendo 900 deles destinados ao SUS.

Fonte:ZERO HORA
Postado por:Elisete Bohrer

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