Exigência de exame para recém-nascidos foi aprovada na Câmara e agora será analisada no Senado
Um projeto de lei que torna obrigatório um exame para detectar a alteração na membrana que conecta a língua ao assoalho da boca em recém-nascidos tem gerado polêmica entre fonoaudiólogos e pediatras. A exigência do chamado teste da linguinha em todas as maternidades do país já foi aprovada na Câmara e agora será analisada no Senado. Em São Paulo, uma lei estadual já obriga a realização do exame pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia e uma das criadoras do teste, Irene Marchesan, afirma que o procedimento é muito simples, pode ser feito por qualquer profissional de saúde e não precisa de treinamento prévio.
— É apenas um formulário com desenhos bem explicativos que o profissional deve preencher. É muito prático, torna fácil de identificar o problema nas crianças e não gera custos aos SUS — esclarece.
Irene explica que a entidade tomou a iniciativa de tornar o teste obrigatório diante do grande número de pacientes que chegam aos fonoaudiólogos com problemas de fala por falta de diagnóstico quando eram bebês.
— O exame não é rotina entre os médicos e o problema passa despercebido. Só depois, quando a fala da criança já está prejudicada, é que o diagnóstico é feito por um fonoaudiólogo — defende Irene.
Outra vantagem na realização do exame apontada por Irene é evitar dificuldades na amamentação. A língua presa causa problemas para sugar e engolir que, muitas vezes, levam ao desmame precoce e desnecessário.
Quando o problema da língua é identificado, um pequeno corte da membrana que conecta a língua ao assoalho da boca deve ser realizado. O projeto de lei proposto não prevê a realização do procedimento, mas ele já é oferecido pelo SUS. Segundo Irene, se o corte não for feito até os dois anos de idade, a fala da criança nunca ficará perfeita.
A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, entretanto, questiona a necessidade de uma lei para a realização do teste da linguinha. Um parecer contrário à obrigatoriedade do procedimento também já foi dado pela Sociedade de Pediatria de São Paulo e endossado pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
Segundo o pediatra e membro da entidade gaúcha Manoel Ribeiro, o exame proposto na lei pode gerar falsos diagnósticos e não diagnósticos.
— O teste não tem validação acadêmica suficiente para virar lei e determinar diagnósticos. É preciso uma discussão multidisciplinar sobre a necessidade e a eficiência desse procedimento — afirma.
Ribeiro argumenta que existem quatro diferentes definições de língua presa na literatura e o teste realizado nos recém-nascidos não é capaz de identificar todas essas variações. Segundo o pediatra, a obrigatoriedade de exame pode levar a cortes desnecessários da membrana, o que pode causar complicações.
Ao contrário do que dizem os fonoaudiólogos, os pediatras afirmam que o exame da língua é parte da rotina e o diagnóstico deve ser feito ao longo das consultas.
Fique de olho
— A polêmica sobre a obrigatoriedade do teste da linguinha pode servir de alerta para os pais. Certifique-se que algum profissional da saúde, seja o pediatra, enfermeiro, dentista ou fonoaudiólogo tenha observado possíveis alterações na língua no bebê.
— Os primeiros sinais de que a criança tem língua presa aparecem já na amamentação. As limitações no órgão fazem com que os bebês tenham menos sucções e longas pausas ao mamar. Quando o bebê apresenta dificuldades de sugar, engolir e, posteriormente, mastigar, ele pode ter alterações na membrana da língua.
— Problemas na fala também podem ser consequência da língua presa. É importante sempre ficar atento a possíveis alterações que, segundo os especialistas, são visíveis.
— A alteração na língua tem influência genética. Portanto, quando for diagnosticada em um membro de uma família, é fundamental pesquisá-la tanto entre os parentes diretos como nos demais.
Fonte:Bem Estar
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