Ministério Público Estadual deflagra no noroeste gaúcho terceira operação contra adulteração do produto
Joana Colussi | Três de Maio
joana.colussi@zerohora.com.br
Após desarticular o esquema de adulteração do leite com
água, ureia e formol no Rio Grande do Sul, o Ministério Público Estadual (MPE)
deflagrou nesta quinta-feira operação contra uma nova fraude: adição de água oxigenada
no produto. A terceira fase da Operação Leite Compen$ado resulta no cumprimento
de cinco mandados de busca e apreensão em Três de Maio e Nova Candelária, no
Noroeste gaúcho.
A adição da substância disfarça as más condições sanitárias
de conversação e transporte, além de aumentar o volume – já que o peróxido de
hidrogênio (popularmente conhecido como água oxigenada) se transforma em água
quando adicionado ao leite.
– A água oxigenada é bactericida, por isso estabiliza o
leite quando ele está envelhecendo, não deixando azedar – explica o promotor de
Justiça Mauro Rockenbach, responsável pela investigação.
O peróxido de hidrogênio causa a redução do valor
nutricional do leite. Quem o ingere pode ter dores de estômago e até morrer,
dependendo da concentração da substância. Fraude semelhante foi descoberta em
Minas Gerais ainda em 2007, na Operação Ouro Branco.
Conforme a investigação do MPE no Estado, o líder do esquema
seria Airton Jacó Reidel, 31 anos, proprietário de uma transportadora de leite
em Três de Maio. Com a ajuda da esposa, Rejane Dias, e dos sobrinhos Roberto
Carlos Baumgarten e Laércio Rodrigo Baumgarten, o transportador faria a
adulteração em um galpão com três resfriadores próximo ao centro da cidade –
após coletar o leite de produtores rurais e antes de entregar à indústria. A
prisão temporária dos suspeitos, solicitada pelo MPE, foi negada pela Justiça,
que entendeu que ao apreender os equipamentos os suspeitos não teriam condições
de continuar adulterando o leite.
– Temos escutas telefônicas em que os investigados falam
claramente sobre a adição de água oxigenada no leite, até mesmo com detalhes
sobre quantidades adicionadas – detalha Rockenbach.
Desde o início da manhã, três equipes formadas por 10
policiais, três promotores de Justiça, 11 servidores do MPE e três do
Ministério da Agricultura cumprem mandados de busca e apreensão no galpão e
residência de Reidel, em outra propriedade da família em Nova Candelária e num
posto de resfriamento da indústria LBR, em Giruá – onde os caminhões do
suspeito entregam leite diariamente. No local a equipe também encontrou
vestígios de bicarbonato de sódio, soda cáustica e sal. Ainda não há
confirmação de que essas substâncias foram adicionadas ao leite.
Investigação sobre novo esquema
Iniciada no começo de setembro, a investigação sobre um novo
esquema de adulteração do leite começou quando a LBR e a Laticínios Malmann
informaram ao MPE e ao Ministério da Agricultura ter detectado a presença de
água oxigenada em cargas de leite entregues pelos caminhões da transportadora
de Reidel.
– As empresas informaram ter rejeitado as cargas por
detectar a substância em exames feitos na chegada do produto – conta o promotor
de Justiça Alcindo Bastos da Silva Filho, da Promotoria Especializada em Defesa
do Consumidor.
Conforme o promotor, o fato das indústrias terem rejeitado
as cargas reduz o risco do produto adulterado ter chegado ao consumidor.
– Mesmo assim, não tem como ter certeza absoluta. Se passou
algo, foi em concentração muito pequena, com baixo risco à saúde – aponta o
promotor.
A LBR, donas das marcas Bom Gosto e Parmalat, foi uma das
indústrias a ter lotes retirados do mercado na primeira fase da operação, em
maio deste ano. Desde então, outras duas empresas, Italac e BRFoods, firmaram
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para aumentar o rigor nas análises e
apertar o cerco contra a ação de atravessadores fraudulentos.
Apesar de ter detectado a adulteração, a BRF não deixou de receber o leite aprovado em análises entregue pelos três caminhões da transportadora, conforme o MPE. Já a Laticínios Malmann deixou de receber o produto do atravessador suspeito.
Fonte : Rádio Navegantes
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