Cacique Amandio Vergueiro, 75 anos, diz que a prática enfraquece o movimento de retomada de áreas dos agricultoresAmandio Vergueiro, 75 anos, vive em um acampamento à beira da estrada entre Passo Fundo e Pontão.Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS.Líder caingangue alerta para arrendamento ilegal Carlos Macedo/Agencia RBS.
Amandio Vergueiro, 75 anos, vive em um acampamento à beira da estrada entre Passo Fundo e Pontão.
Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS
Respeitado pelos jovens guerreiros, escutado pelos velhos da tribo e temido pelos agricultores, o cacique Amandio Vergueiro, 75 anos, compara o arrendamento clandestino de terras das áreas indígenas para colonos como uma peste que está levando os caingangues à extinção.
— Retomar a nossa terra dos agricultores pequenos e
arrendá-las para os grandes é uma prática que vem se espalhando entre os
índios. Isto tira a seriedade da nossa luta — protesta Vergueiro, cacique do
acampamento Butiá, que fica à beira da estrada entre as cidades de Passo Fundo e Pontão.
O arrendamento ilegal de áreas indígenas perfila-se entre os
principais alimentadores da disputa agrária entre índios e colonos. Para
arrendar as terras, as lideranças das tribos acabam expulsando famílias da
área. As famílias acabam formando acampamentos em beiras de estradas, que se
tornam foco de tensão agrária.
O cacique não é único a falar sobre o assunto. Há vários
documentos governamentais e da própria Fundação Nacional do Índio (Funai) que
apontam nesta direção, como um da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) do
Estado, de maio do ano passado, que recomenda: "Ação conjunta entre os
governos do Estado e Federal visando coibir os arrendamentos em áreas
indígenas, situação que acaba beneficiando alguns indígenas e alguns
agricultores, gerando mais exclusão e demandas por novas áreas".
Assunto tabu
Entre os caciques, a questão do arrendamento ilegal é um
assunto tabu, principalmente entre os envolvidos nos conflitos agrários de
retomada de área dos agricultores. Zero Hora conversou com vários deles, que
concordaram em falar sobre o assunto, mas pediram que seus nomes fossem
omitidos. Em linhas gerais, eles falam que o arrendamento ilegal acontece
devido ao somatório de dois fatores: a pressão econômica feita pelos
arrendatários e a miséria em que vivem as famílias indígenas.
Muito embora a posição de Vergueiro seja isolada, entre os
indígenas ela é respeitada devido à história do cacique. Ele foi um dos líderes
da retirada de 1,5 mil famílias de agricultores intrusos da Reserva Indígena de
Nonoai, em 1978, e também esteve presente nas principais lutas de retomada de
áreas, como a da Reserva da Serrinha, em Ronda Alta, nos anos 90.
Ninguém sabe exatamente a quantidade de arrendamentos
clandestinos de terras indígenas existentes no Rio Grande do Sul — onde os
índios têm em torno de 80 mil hectares, sendo cerca de 30 mil deles áreas
retomadas dos brancos, segundo dados da Funai. A Polícia Federal (PF) de Passo
Fundo regularmente recebe denúncias sobre arrendamentos em terras indígenas na
região norte do Estado. No momento, há investigações preliminares relacionadas
às denúncias.
Até agora, nas várias investigações feitas pela PF em todo o
estado, a maior dificuldade dos agentes é conseguir desmascarar os contratos
frios de assistência técnica e cooperação agrícola feitos entre arrendatários e
índios para camuflar situações ilegais.
Fonte: Carlos Wagner 14/05/2014 | 16h08 Em Zero Hora
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